domingo, 19 de novembro de 2006

A Etiqueta da Infertilidade

"Existem boas chances de que você conheça alguém que luta com a infertilidade. Mais de 5 milhões de pessoas em idade fértil, nos Estados Unidos, passam por infertilidade. Ainda assim, como sociedade, estamos lamentavelmente mal informados sobre como dar o melhor apoio emocional às pessoas que amamos, neste período difícil.
A infertilidade é, realmente, uma luta muito dorida. A dor é parecida com o luto por perder um ente querido, mas é única, porque é um luto recorrente. Quando um ente querido morre, ele não vai voltar. Não há esperança de que ele irá voltar dos mortos. Devemos passar por todos os estágios do luto, aceitar que nunca mais se verá essa pessoa novamente, e seguir em frente com nossas vida.
O luto da infertilidade não é tão metódico. As pessoas inférteis ficam de luto pela perda de um bebé, que eles podem nunca chegar a conhecer. Elas ficam de luto pela perda de um bebé que teria o nariz da mamã e os olhos do Papá. Mas a cada mês, há a esperança de que talvez este bebé tenha sido concebido finalmente. Não importa o quanto eles tentem preparar-se para más notícias, eles ainda esperam que este mês seja diferente. Então, as más notícias chegam novamente, e o luto cobre o casal infértil mais uma vez. Este processo acontece mês após mês, ano após ano. É como ter um corte profundo que se abre novamente justo quando começava a cicatrizar.
Quando o casal decide seguir em frente com os tratamentos para infertilidade, a dor aumenta enquanto a conta bancária diminui. A maioria dos tratamentos para infertilidade envolve o uso de hormonas, que alteram o humor da usuária. Os testes são invasivos e envergonham os parceiros, e você sente que o médico assumiu o controle do seu quarto. E para todo este desconforto, você paga muito dinheiro. Os tratamentos para infertilidade são caros, e a maioria das empresas de seguro não cobre os custos. Então, além da dor de não conceber um bebé a cada mês, o casal tem que pagar algo, chegando até números de 5 dígitos, dependendo do tratamento utilizado.
Um casal eventualmente resolverá o problema da infertilidade de alguma destas três maneiras:
· Eles eventualmente conceberão um bebé. · Eles vão parar com os tratamentos de infertilidade e decidir viver uma vida sem filhos. · Eles encontrarão uma alternativa para ser pais, como a adoção.
Chegar a uma solução pode levar anos, então seu casal de amigos amado precisará de seu apoio emocional durante esta jornada. A maioria das pessoas não sabe o que dizer e, por isso, acaba dizendo a coisa errada, que apenas torna a jornada ainda mais difícil para seus entes queridos. Saber o que não dizer já é metade da batalha ganha para dar apoio:

NÃO lhes diga para relaxar
Todo a gente conhece alguém que teve problemas para engravidar, mas que finalmente conseguiu logo que ela “relaxou”. Casais que conseguem engravidar após alguns meses de “relaxamento” não são inférteis. Por definição, um casal não é diagnosticado como infértil até que tenha tentado sem sucesso engravidar por um ano completo. Na verdade, a maioria dos especialistas nem mesmo tratará de um casal por infertilidade antes que eles tenham tentado engravidar por um ano. Este ano é para excluir as pessoas que não são inférteis, mas apenas precisam “relaxar”. Os que sobram são verdadeiramente inférteis. Comentários como “apenas relaxe” ou “por que vocês não fazem um cruzeiro” criam ainda mais stress para o casal infértil, especialmente para a mulher. Ela sente que está a fazer alguma coisa errada, quando, na verdade, há uma boa chance de que haja um problema físico que a esteja impedindo de engravidar.
Estes comentários podem chegar a ponto do absurdo. Um casal passa por cirurgias, numerosas inseminações, tratamentos hormonais, e anos de médicos apertando e cutucando. Ainda assim, as pessoas continuam a dizer coisas como, “se você apenas relaxasse durante um cruzeiro...” A infertilidade é um problema médico diagnosticável que deve ser tratado por um médico, e mesmo com o tratamento, muitos casais NUNCA conseguiram conceber uma criança. Apenas “relaxar” não cura a infertilidade.
NÃO minimize o problema!
A falha em conceber um bebé é uma jornada muito dolorosa. Os casais inférteis estão cercados de famílias com crianças. Estes casais vêem seus amigos terem dois ou três filhos, e vêem estas crianças crescerem, enquanto voltam para o silêncio das suas casas. Estes casais vêem toda a alegria que uma criança traz para a vida de uma pessoa, e sentem o vazio de não serem capazes de experimentar a mesma alegria.
Comentários do tipo, "aproveite que você pode dormir até tarde... Viajar... Etc.” não oferecem conforto. Ao contrário, estes comentários fazem com que o casal infértil se sinta como se você estivesse minimizando a dor deles. Você não diria a alguém cujo pai acabou de morrer que ele deveria ficar feliz, pois não vai mais ter que gastar dinheiro com o presente de Dia dos Pais. Deixar de ter aquela obrigação, nem mesmo está perto de compensar a incrível perda de um pai ou mãe. Da mesma maneira, poder dormir até tarde ou viajar não fornece conforto a alguém que quer uma criança desesperadamente.
NÃO diga que há coisas piores que poderiam acontecer.
Nestes mesmos termos, não diga aos seus amigos que há coisas piores que poderiam acontecer do que o que eles estão passando. Quem é a autoridade final sobre qual é a “pior” coisa que poderia acontecer a alguém? É passar por um divórcio? Ver alguém querido morrer? Ser violada? Perder um emprego?
Pessoas diferentes reagem a diferentes experiências de vida de maneiras diferentes. Para alguém que treinou a vida inteira para participar das Olimpíadas, a “pior” coisa que poderia acontecer é um ferimento na semana anterior ao evento. Para alguém que deixou a carreira para se tornar uma dona de casa por 40 anos após o casamento, ver seu marido trocá-la por uma mulher mais nova pode ser a “pior” coisa. E para uma mulher cujo único objetivo de vida é amar e nutrir uma criança, a infertilidade pode sim ser a “pior” coisa que poderia acontecer.
As pessoas jamais sonhariam em dizer a alguém cujo pai acabou de morrer, "Poderia ser pior, seu pai e sua mãe poderiam estar mortos”. Tal comentário seria considerado cruel e não reconfortante. Do mesmo modo, não diga à sua amiga que ela poderia estar passando por coisas piores na vida do que a infertilidade.
NÃO diga que eles não foram feitos para ser pais.
Uma das coisas mais cruéis que alguém pode dizer é: "Talvez Deus não queira que você seja mãe”. Quão inacreditavelmente insensível é insinuar que seria uma mãe tão ruim, que Deus achou melhor me “esterilizar divinamente”. Se Deus estivesse no ramo da esterilização das mulheres no plano divino, você não acha que ele preveniria as gravidezes que terminam em abortos? Ou então não esterilizaria as mulheres que terminam por negligenciar e abusar de seus filhos? Mesmo que você não seja religioso, os comentários do tipo “talvez não seja para ser” não são reconfortantes. A infertilidade é uma condição médica, não uma punição de Deus ou da Mãe Natureza."

Fonte: Projecto Artemis - Artigo